A minha aldeia, Lisboa
No início do século XX, Lisboa pouco tinha ultrapassado as fronteiras da Av. da Liberdade e da Av. Almirante Reis, ou Rainha D. Amélia como então era conhecida. O Areeiro, os Olivais, Palhavã, Alcântara, Campolide, Benfica pouco mais eram do que pequenas aldeias paradas no tempo. Com a crónica falta de dinheiro e as inevitáveis divergências entre facções políticas, Lisboa pouco se desenvolveu durante a Primeira República. Só nos anos 40, com Duarte Pacheco à frente do Ministério das Obras Públicas, a cidade iria conhecer um novo dinamismo, começando a nascer novos bairros nos "arrabaldes", como as Avenidas Novas, e modernas vias rodoviárias como a autoestrada para Cascais. Lisboa estava a crescer. Nem sempre da melhor maneira. Ao lado de obras de mérito, os bairros da lata propagavam-se e seriam cometidos violentos crimes urbanísticos, como a demolição do Martim Moniz. Crimes que se prolongaram por décadas, até hoje, porque ainda hoje se continua a destruir património cultural e arquitectónico sempre que outros valores, tantas vezes mesquinhos, frequentemente obscuros, se levantam.
Principais fontes de consulta e fotográficas:
Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital, Museu da Cidade, Blogue Restos de Colecção, Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian
Venda de perus pelo Natal. Fossem galinhas ou perus para vender, bois ou burros para carregar a carga, vacas ou cabras para fornecer ao freguês leite "acabadinho de tirar", não era inusitado, nem mesmo em pleno Rossio, verem-se destes animais pelas ruas de Lisboa, costume que se perdeu já o século XX ia avançado. Fotografia de Augusto Bobone, Arquivo Municipal de Lisboa.
Ao fundo, a Central Tejo, um belíssimo testemunho do património arqueológico industrial de Lisboa. Iniciou a sua actividade em 1909, abastecendo de electricidade a cidade e grande parte da região de Lisboa. A partir de 1951, passou a ser apenas uma central de reserva e, em 1972, cessou de vez as suas funções, servindo actualmente como Museu da Electricidade. Fotografia de Amadeu Ferrari, Arquivo Municipal de Lisboa.
Separada hoje pela Segunda Circular, a Azinhaga das Galhardas começava no Largo das Fonsecas e ia até Telheiras. Fotografia de Judah Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa.
Venda de perus pelo Natal. Fossem galinhas ou perus para vender, bois ou burros para carregar a carga, vacas ou cabras para fornecer ao freguês leite "acabadinho de tirar", não era inusitado, nem mesmo em pleno Rossio, verem-se destes animais pelas ruas de Lisboa, costume que se perdeu já o século XX ia avançado. Fotografia de Augusto Bobone, Arquivo Municipal de Lisboa.
Teatreiros e Cinéfilos
Sabia que existiu um cinema em pleno Palácio Foz? Que, antes do Eden, o terreno era ocupado por uma garagem? Que, antes do Condes, existiu no mesmo local o Teatro da Rua dos Condes? Que, antes de ser São Luís, o teatro se chamou D. Amélia, no tempo da monarquia, e República após 1910? Ou que, em Lisboa, existiram outros cinemas e teatros com nomes como Apolo, na Rua da Palma, Luís de Camões, na Ajuda, ou Thalia, às Laranjeiras? E, a pergunta mais dramática, quantos cinemas e teatros que frequentou já desapareceram, vítimas de incêndios, do camartelo, da especulação imobiliária e do desleixo e desapego à cultura das "elites" governantes ao longo de décadas?
Principais fontes de consulta e fotográficas:
Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital, Museu da Cidade, Blogue Restos de Colecção, Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian
Fotografia de Joshua Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa.
Projectado pelo arquitecto Lima Franco foi inaugurado em Dezembro de 1953 e demolido em 2003 depois de ter sido, durante alguns anos, sala de "culto" da Igreja Universal do Reino de Deus. Fotografia de Salvador de Almeida Fernandes, Arquivo Municipal de Lisboa.
Av. da República, terrenos da Feira Popular. O cinema mais tarde convertido a Teatro Vasco Santana. Fotografia de Artur Goulart, Arquivo Municipal de Lisboa.
Fotografia de Joshua Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa.
Alfacinhas nas hortas
Aos domingos, os lisboetas tinham por tradição "ir às horas", ou seja, ir em passeio pelas zonas rurais dos arredores da cidade, sendo Belas uma das regiões preferidas. O almoço, geralmente constituído por peixe frito, era acompanhado por salada de alface, um costume visto com estranheza pelas gentes de fora de Lisboa ("comida de grilo", ainda há quem lhe chame). Segundo se crê, esse hábito alimentar deu origem ao termo "alfacinha" que serve de alcunha aos nados em Lisboa.
Principais fontes de consulta e fotográficas:
Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital, Museu da Cidade, Blogue Restos de Colecção, Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian
Costumes e Ofícios de Lisboa Antiga
As ruas eram os nossos centros comerciais. Ali, vendia-se de tudo: fava-rica, peixe, perus e galinhas vivas, o belo figuinho de capa rota, leite acabado de extrair da vaca ou da cabra que o leiteiro trazia consigo, rendas e água fresca. O amolador, a varina, o moço de fretes, o engraxador, o ardina enchiam as ruas de pregões. O ferro-velho comprava garrafas, papéis, livros e revistas. As lavadeiras, vindas dos lados de Caneças ou da Malveira, partiam da cidade em carroças, ou em camionetas as mais afortunadas, ajoujadas de trouxas de roupa suja que, na semana seguinte, traziam imaculada às patroas. Os moços de fretes, também conhecidos por galegos por ser da Galiza a origem de muitos, ofereciam os seus préstimos ao virar de cada esquina. Os vendedores de banha-da-cobra proclamavam alto e bom som os milagrosos atributos dos seus unguentos e poções que tudo saravam, que, a acreditar nas suas palavras, davam vida a um morto. De todos eles, é talvez o vendedor de castanhas assadas o único que resistiu aos avanços do "progresso" e que ainda hoje, a preços pouco amistosos, é certo, mantém viva a tradição. Quentes e boas, lá vêm elas em cada Outono lembrar-nos que Lisboa é mais do que a corrida para casa ao fim da tarde, mais do que o shopping, mais do que edifícios de escritórios em artérias que, por força do lucro, da voragem dos tempos e da estupidez dos homens, perderam beleza e carácter.
Principais fontes de consulta e fotográficas:
Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital, Museu da Cidade, Blogue Restos de Colecção, Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian
"Os aguadeiros vendiam água de porta em porta. Organizavam-se em companhias. Cada companhia era composta por trinta e três aguadeiros. Os chafarizes tinham um capataz por cada companhia de aguadeiros para fiscalizar no local as infracções e impor a ordem." Texto: http://revelarlx.cm-lisboa.pt Fotografia de Joshua Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa.
Chafariz de São Paulo. Os aguadeiros eram também bombeiros. Tinham de acudir aos incêndios com os barris de água e eram avisados pelo número de toques do sino da igreja, identificando a freguesia onde ocorria o fogo. Texto: http://revelarlx.cm-lisboa.pt Fotografia de Joshua Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa.
"Os aguadeiros vendiam água de porta em porta. Organizavam-se em companhias. Cada companhia era composta por trinta e três aguadeiros. Os chafarizes tinham um capataz por cada companhia de aguadeiros para fiscalizar no local as infracções e impor a ordem." Texto: http://revelarlx.cm-lisboa.pt Fotografia de Joshua Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa.
Quando o comércio era de bairro
R. de São Bento Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa.
R. da Misericórdia Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa.
R. dos Fanqueiros. Antigo Convento de Corpus Christi.
R. de São Bento Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa.
Tardes de tertúlia, noites de estúrdia
Rua Garrett. Foi neste café que terá começado a ser usado o termo "bica" para designar uma chávena de café. Fotografia de Joshua Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa.
Rua Garrett. A Brasileira do Chiado abre as portas em 1905.
R. dos Fanqueiros. Antigo Convento de Corpus Christi.
Rua Garrett. Foi neste café que terá começado a ser usado o termo "bica" para designar uma chávena de café. Fotografia de Joshua Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa.
As lojas de Lisboa chique
Restauradores. Em 1910, o Palácio Foz foi comprado pelo Conde de Sucena que alugou o espaço a ourives, alfaiates, fotógrafos, modistas, clubes, leitaria, ginásio. Foi parte do edifício a legação dos Estados Unidos. Neste palácio funcionou a Pastelaria Foz, o Salão Foz, o Club Maxim’s, o Central Cinema, o Restaurante Abadia, e o Club dos Restauradores. TEXTO DE: http://revelarlx.cm-lisboa.pt Fotografia de Joshua Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa.
Rua Garrett. Projectada por Raul Lino, esta loja de roupa íntima feminina foi inaugurada em 1925.
R. do Ouro.
Restauradores. Em 1910, o Palácio Foz foi comprado pelo Conde de Sucena que alugou o espaço a ourives, alfaiates, fotógrafos, modistas, clubes, leitaria, ginásio. Foi parte do edifício a legação dos Estados Unidos. Neste palácio funcionou a Pastelaria Foz, o Salão Foz, o Club Maxim’s, o Central Cinema, o Restaurante Abadia, e o Club dos Restauradores. TEXTO DE: http://revelarlx.cm-lisboa.pt Fotografia de Joshua Benoliel, Arquivo Municipal de Lisboa.
As lojas elegantes do Chiado de inícios do século passado, os grandes armazéns ao jeito parisiente, as pastelarias finas para beber um chá e tagarelar um pouco, as livrarias que vendiam livros e não mercadoria de terceira ordem embrulhada em rendas e tafetás, as lojas para todos os gostos e necessidades, da Casa dos Espartilhos à Casa das Bengalas. Uma Lisboa que por lá ficou.
Principais fontes de consulta e fotográficas:
Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital, Museu da Cidade, Blogue Restos de Colecção, Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian
Nas asas do progresso
Terrenos onde viria a ser construído o aeroporto da Portela.
Aeroporto de Cabo Ruivo. Os hidroaviões "Clippers", da Pan American, faziam a ligação entre a América do Norte e Lisboa nos anos 40. Faziam escala nos Açores e, em Lisboa, amaravam no Aeroporto Marítimo de Cabo Ruivo. Fonte de informação e fotográfica: restosdecoleccao.blogspot.
Estação de Stª Apolónia. Inauguração da estação principal de Caminho de Ferro de Leste e Norte.
Terrenos onde viria a ser construído o aeroporto da Portela.
Que é feito dos Prémios Valmor?
Palácio Lima Mayer, Av. da Liberdade, esquina com a R. do Salitre. O palácio, onde hoje está instalado o Consulado de Espanha, foi mandado construir por Adolfo de Lima Mayer sob o projecto de Nicola Bigaglia, um arquitecto italiano que trabalhou em Portugal nos princípios do Séc. XX. Foi a primeira obra a receber o Prémio Valmor, em 1902. No seu jardim estabeleceu-se o Parque Mayer, em 1921. Texto: http://lisboahojeeontem.blogspot.pt Fotografia de José Chaves Cruz, AML.
Palácio Lima Mayer, Av. da Liberdade, esquina com a R. do Salitre. Fotografia de Paulo Guedes, Arquivo Municipal de Lisboa.
Edifício Vodafone, Parque das Nações. Fotografia de Dias dos Reis, http://www.pbase.com/diasdosreis
Palácio Lima Mayer, Av. da Liberdade, esquina com a R. do Salitre. O palácio, onde hoje está instalado o Consulado de Espanha, foi mandado construir por Adolfo de Lima Mayer sob o projecto de Nicola Bigaglia, um arquitecto italiano que trabalhou em Portugal nos princípios do Séc. XX. Foi a primeira obra a receber o Prémio Valmor, em 1902. No seu jardim estabeleceu-se o Parque Mayer, em 1921. Texto: http://lisboahojeeontem.blogspot.pt Fotografia de José Chaves Cruz, AML.